Pandemia: o mito do excecionalismo africano

A informação disponibilizada sobre a expansão da COVID 19 em África mostra números bem inferiores aos dos outros continentes – menos de 200 mil infeções detetadas (2,8%) e pouco mais de 5 mil mortos (1,3%), apesar de a população constituir cerca de 17% do total mundial.

A ser real, existirá algum excecionalismo africano, ou estaremos perante um mero atraso da expansão pandémica, conjugada com informação não reportada ou não conhecida? Tendo em conta as debilidades de informação, é provável que as taxas de infeção sejam bem superiores às reportadas, embora a mortalidade da COVID 19 se deva manter baixa dada a juventude da população. Porém, o que já se torna claro é que o foco no combate à COVID 19 tem, por consequência indesejada, a diminuição de ações profiláticas (p.e. anti mosquito) e de prevenção e tratamento de outras doenças infeciosas, dada a sobrecarga dos sistemas de saúde e prevenção sanitária. Será, pois, espectável o aumento das taxas de infeção e mortalidade de doenças típicas a ambientes tropicais e insalubres, como a malária, sarampo, tuberculose, dengue, bilharziose ou tripanossomíase e, em regiões específicas, de doenças hemorrágicas (ébola) e do HIV-SIDA.

Aliás, o número de mortos esperável de malária em África este ano ultrapassaria, em condições normais, as 400 mil pessoas, o que tem levado muitos analistas a apontar para esta aparente contradição entre meios empregues no combate a doenças infeciosas com elevada mortalidade comparados com os meios empregues para o combate ao COVID 19. Este facto indica até que ponto o medo da pandemia comanda os centros decisores, ou seja, não é a mortalidade da doença que provoca a intensidade das reações, mas sim o facto de ela poder atingir todas as classes sociais, ricos e pobres, governados e governantes. Em suma, direta ou indiretamente a pandemia deverá provocar em 2020, infelizmente, um aumento do número de mortes causadas por doenças infeciosas – a própria COVID 19 e outras.

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As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador.

Foto de US Army Africa / CC BY 2.0

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Fernando Jorge Cardoso

Researcher at CEI-IUL. PhD in Economics (ISEG). Previously: lecturer and director of the Faculdade de Economia at Eduardo Mondlane University, governmental advisor, lecturer at UML, ISG, Universidade Fernando Pessoa, IEEI. Research coordinator at the IMVF. Consultant for development aid programs in Angola, Mozambique and Cape Verde. He has widely published on African issues, development, and international relations.

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