Review | Aula aberta “The Syrian war and the (new) great game”
O mundo continua a assistir à guerra civil que assola a Síria e que começou em 2011, o que faz com que o ano de 2018 seja o seu sétimo ano de existência. A aula aberta, realizada no passado dia 10 de maio de 2018 foi da responsabilidade do Mestrado de Estudos Internacionais e do Centro de Estudos Internacionais, do ISCTE-IUL. O orador convidado foi Adam-al-Alou, doutorando e investigador sírio do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Esta aula aberta tinha como objetivo oferecer um novo olhar sobre a guerra civil da Síria.
Adam-al-Alou iniciou a sua apresentação com um background histórico da Síria para que fosse possível uma compreensão rápida de como se chegou ao regime de Bashar-al-Assad e ao contexto internacional reconhecido por todos. O pai de Assad, Hafez-al-Assad, governou o país durante trinta anos fazendo despontar um estado totalitário, sem oposição política e uma Constituição permissiva; o jovem investigador dá como exemplo o artigo oitavo desta Constituição que revelava que o partido político, Baath party, era líder tanto da política como da sociedade. Com a morte de Hafez, Bashar-al-Assad torna-se Presidente da Síria depois de uma alteração à Constituição. Esta não permitia a existência de um Presidente com menos de 40 anos. O novo Presidente tentou liberalizar a economia, apesar de manter a Síria como um estado autoritário.
É a partir de 2011 que o contexto para a revolta se começa a desenhar na Síria depois de um grupo de crianças entre os 10 e os 12 anos ter sido presa e torturada por manifestações contra o regime. Na verdade, as prisões encontravam-se cheias de protestantes e a violência na Síria escalou, o exército interveio e, depois do contexto se tornar mais sangrento, a comunidade internacional decidiu interceder e pedir o fim do regime sírio. A internacionalização do conflito dá-se já depois de uma militarização forte na Síria e de uma escalada na guerra civil com vários países do mundo, como o Irão e a Rússia, os Estados Unidos da América e a Turquia a desempenharem diversos papéis neste conflito internacional.
O tema desta aula aberta é complexo e possui contornos internacionais bem vincados e vários atores
Este ponto de vista foi referido várias vezes no discurso do convidado. Adam-al-Alou passou a explicar estes contornos. Em 2013, os Estados Unidos da América, sob a administração Obama, defendiam uma ofensiva internacional na Síria de modo a impedir o governo de Damasco de utilizar armas químicas depois de um ataque a civis. A partir de 2014, com a existência do ISIS, o papel dos Estados Unidos passou a ser limitado ao combate ao terrorismo. A situação inverteu-se com o recente ataque químico do primeiro semestre de 2018. Os Estados Unidos, sob a administração Trump, retaliaram e lançaram mísseis contra uma base aérea na Síria.
Também a Rússia tem um papel preponderante neste conflito ao agir diretamente na Síria desde 2015 e, com o seu apoio, o regime de Assad tem vindo a conquistar terreno. Este convidado afirma que a Rússia é o “maior vencedor” e o “mais importante jogador na Síria”. Também o Irão tem mostrado estar ao lado da Síria ao fornecer meios humanos e financiamento. Adam-al-Alou vai mais longe, afirmando que, sem o apoio do Irão, o regime de Assad não teria sobrevivido. De extrema importância devido à sua posição geográfica, a Turquia também tem um papel chave desde o início da guerra da Síria. O investigador salientou que a oposição síria opera a partir da Turquia.
O contexto internacional da crise dos refugiados não foi deixado de lado nesta aula aberta
O mundo vive a maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial sendo que a guerra da Síria é a maior responsável pelo crescimento deste número. Na Europa, os refugiados sírios encontram refúgio em campos de refugiados na Grécia ou na Itália. A esta altura, estes campos de refugiados encontram-se sobrelotados e não possuem as condições sanitárias adequadas. No final desta apresentação, o orador convidado abordou este tema defendendo que o fardo da crise dos refugiados e os seus números, deve ser uma responsabilidade internacional.
O debate, que ocorreu na parte final desta aula aberta, foi de extrema importância para que o público pudesse ver respondidas as suas dúvidas sobre a guerra da Síria. Este público comportou-se como uma audiência muito empenhada em debater o tema, com muitas questões dirigidas ao investigador convidado, transformando, público e investigador, o debate num empolgante momento académico.
As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador. Bashar al-Assad e Vladimir Putin / foto de Kremlin.ru / CC BY 4.0
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