Vozes silenciadas
Certos grupos, dada a organização social existente, sempre estiveram consignados ao silêncio. Não porque não tivessem voz, não fossem parte daquela sociedade, ou não contribuíssem para o seu quotidiano, mas simplesmente porque a sua voz era silenciada por quem podia fazê-lo.
O acesso ao discurso foi sempre um privilégio dos mais fortes. Contudo, o surgimento de novos canais discursivos para a esfera pública deu a ideia de uma democratização do acesso ao discurso. Na verdade, esse processo de maior acesso ao discurso criou uma ilusão de quase livre acesso, pelo menos desde que existem redes sociais. Todavia, a história comprova que o discurso sempre resultou de um jogo de silêncios, gerido consoante os interesses dos poderes dominantes de determinada sociedade.
Certos grupos, dada a organização social existente, sempre estiveram consignados ao silêncio. Não porque não tivessem voz, não fossem parte daquela sociedade, ou não contribuíssem para o seu quotidiano, mas simplesmente porque a sua voz era silenciada por quem podia fazê-lo. Há cerca de ano e meio, Jorge Cañares-Esguerra referia a questão de os arquivos serem, por sua vez, os guardiões das memórias que apenas guardam fragmentos da materialidade relativa à narrativa que pretendem contar.
Em dias de excesso de discurso e canais variados para fazê-lo, vale a pena refletir sobre o que é afinal este poder da fala para a esfera pública. Até que ponto o falar para o público é uma ação livre ou é uma atividade ainda hoje constrangida. Essa permanece a grande questão.
Escolhi três livros para ilustrar esta relação entre vozes e silêncios. Começando na antiguidade clássica, passamos ao período do Iluminismo para culminar na atualidade. Viajando através de um romance, uma biografia e um ensaio, será possível ver como a gestão do discurso tem sido feita, em diferentes geografias e períodos de tempo.
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As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador. Foto de Maik Meid / CC BY-SA 3.0
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