A última reunião entre Schulz e Merkel pode significar o regresso da “grande coligação”

Última reunião para a grande coligação

A CDU de Angela Merkel reuniu-se esta semana com os principais representantes dos sociais-democratas (SPD), marcando assim o final das negociações com vista ao estabelecimento de uma grande coligação que permita a governação. Há mais de 100 dias que a Alemanha está sem governo, depois das eleições para o Bundestag de 24 de setembro. A resolução deste impasse poderá passar pelo regresso à “grande coligação” ou pela convocatória de novas eleições. Merkel diz estar otimista acerca das negociações com o SPD: “Acho que as conversas podem ser bem-sucedidas”, disse à BBC. Já Martin Schulz, líder do SPD, admitiu, esta quarta-feira que “será um longo dia”, cita a Reuters.

Depois de quatro encontros entre os líderes da CDU, CSU (partido-irmão da CDU na Baviera) e do SPD, que decorreram sob confidencialidade – nenhum dos envolvidos teve permissão para falar com a imprensa sobre o discutido -, os líderes das forças políticas mais votadas nas últimas eleições de setembro voltaram a reunir-se esta quinta-feira para tomarem a decisão final. No entanto, isso ainda não significa que a Alemanha volte a ter, oficialmente, a maioria necessária para governar: a decisão da reunião voltará a ser discutida a 21 de janeiro, num congresso de membros do SPD. Ou seja, só a partir dessa data é que se saberá se Martin Schulz terá a legitimidade de que precisa para continuar.

Prioridade: refundar o projeto europeu

De acordo com a Euronews, esta segunda-feira, o líder do Partido Social Democrata apresentou uma das condições para a renovação da coligação com os conservadores de Angela Merkel: a Alemanha deve ajudar a refundar o projeto europeu. “Para os futuros parceiros de uma coligação de governo na Alemanha, a Europa terá de ser, certamente, uma das questões fundamentais”, disse o líder do partido, Martin Schulz à Euronews. Esta afirmação de Schulz está em conformidade com o caminho traçado pela França, um dos seus principais interlocutores: aprofundar e reformular a União.

As eleições de 24 de setembro demonstraram ser um fracasso para os partidos da antiga “grande coligação”: os dois partidos tiveram apenas 53,4% dos votos, quando em 2013 tinham alcançado 67% dos votos. O SPD teve o seu pior resultado desde o pós-guerra. Ao mesmo tempo, a pulverização dos votos levou à dispersão de lugares parlamentares e permitiu que o partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) conseguisse ser a 3.ª força política mais votada. Os resultados, ao permitirem a entrada da AfD no Parlamento, deixaram ainda mais difícil a tarefa de formar executivo – se forem marcadas novas eleições, teme-se que a popularidade do partido de extrema-direita aumente ainda mais.

Da “Jamaica” novamente para o SPD

Depois de Martin Schulz ter-se recusado a formar governo ao lado de Merkel, o partido da atual chanceler alemã tentou uma coligação com os Verdes e os Liberais (FDP) – numa “geringonça” à alemã, que ficou conhecida como “Jamaica” – mas não resultou porque os liberais afirmaram que não havia espaço de “compromisso”. De acordo com o Público, o líder do FDP, Christian Lindner, alegou diferenças irreconciliáveis entre os dois partidos: “É melhor não governar do que governar o caminho errado”, afirmou.

A solução passaria por eleições antecipadas ou uma nova tentativa de coligação com o partido de Schulz, que cedeu perante a pressão da União Europeia, preocupada com o vazio de poder alemão. Mas isto não acontece sem tensões internas dentro do SPD: alguns membros do partido creem que os compromissos com a CDU irão por ainda mais em causa a identidade do partido de centro-esquerda.

As tensões não são exclusivas do SPD – o partido de Merkel também preferia uma reaproximação às raízes de direita da CDU.  Os próprios alemães, inquiridos numa sondagem no domingo passado, acreditam que a resposta a este impasse político (a maioria, 53%, afirmou-o) é uma coligação, mas não demonstraram muito entusiasmo com a ideia. A coligação parece ser uma fórmula em desgaste para a maior parte dos alemães.

Na verdade, o Bundestag tem uma larga história de coligações. Entre 1949 e 1957 foi governado por uma coligação CDU/FDP, situação que se repetiu de 1961 a 1965, depois de um curto interregno. De 1965 a 1969, o executivo foi formado pela CDU/CSU e pelo SDP. De 1969 a 1983, o SDP governou ao lado do FDP. Entre 1983 e 1998, a coligação voltou a ser entre a CDU/CSU e o FDP, tal como tinha acontecido na década de 1950. No início do novo milénio, a coligação foi formada entre o FDP e os Verdes. A partir de 2005, passou a ser entre o SPD e a CDU/CSU. Houve uma interrupção entre 2009-2013, altura em que o partido de Angela Markel tentou a coligação com o FDP. No total, desde 1949, só houve um parlamento com maioria absoluta para governar: o CDU/CSU, entre 1957 e 1961, sob a liderança de Konrad Adenauer.

Angela Merkel and Martin Schulz. Photo by Erlebnis Europa / Public domain

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Inês Chaíça

Student at the Master in International Studies (ISCTE-IUL). Undergraduate degree in Communication Sciences.

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