“O Médio Oriente é um espaço incontornável”
O Médio Oriente (MO) sempre foi uma espécie de coração do Mundo. Na sua configuração mais consensual, que inclui a região da Península Arábica, o Egito, a Turquia e o Irão, o MO é, foi e será, fonte de inúmeras interações para quase todo o planeta. Ali se juntam três continentes, a Ásia, a Europa e África e dois oceanos, o Mediterrâneo (que depois liga ao Atlântico) e o Índico.
O MO é um espaço incontornável, na história e na geografia, na espiritualidade e nas religiões, no equilíbrio dos recursos do planeta e na centralidade de movimentos de pessoas e bens. Foi nesta ampla região que nasceram fontes de direito (código de Hamurabi), as principais religiões como o Zoroastrismo e as três abraâmicas, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Aqui surgiram e desapareceram civilizações, como os Assírios, Sumérios, Sabeus, Babilónicos, Hititas, Omíadas, Abássidas, …;grandes Impérios, como o Persa, o Macedónico, o Romano ou o Otomano; entraram poderes exteriores como os Britânicos, os Franceses e os Alemães e, mais recentemente, a Rússia, os EUA e a China.
O MO também foi uma região de profundas cisões e ruturas. As três religiões abraâmicas, distintas entre si, cindiram-se em dezenas de ramos e fações. Aqui tanto se fraturaram como se somaram alianças de povos e é onde, ainda reside, muita da conflitualidade do nosso planeta. Aqui, em plena crise da Corona Virus Disease 19, continuamos a assistir a uma espécie de “guerra fria” entre Xiitas (a partir de Teerão) e Sunitas (desde Riade) que por vezes se torna “quente” nas habituais guerras por procuração (na Síria, no Iraque, no Líbano e no Iémen). Aqui, continua bem aceso o conflito entre Israel e a faixa de Gaza / Cisjordânia, numa conflitualidade maior que inclui grande parte do mundo Árabe. Aqui, é onde reside mais de metade de todo o petróleo e o gás natural do mundo, e nenhum grande ator internacional relevante está ausente. Por isso esta região é um coração fundamental que faz tudo mover, que a todos preocupa, que a todos interessa e que, por estar doente há mais de um século, precisa de cuidados permanentes. Se parar, não para apenas o MO, paramos todos.
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Este texto representa uma síntese da intervenção do autor no webinar "Médio Oriente em tempos de COVID-19", organizado pelo Centro de Estudos Internacionais do Iscte e pelo Instituto da Defesa Nacional, em parceria com o Diário de Notícias. Photo by chuttersnap on Unsplash
As opiniões expressas neste texto representam unicamente o ponto de vista do autor e não vinculam o Centro de Estudos Internacionais, a sua direcção ou qualquer outro investigador.
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