This Week in the News (December 16, 2016)
É a história incontornável destes dias. A batalha de Aleppo, na Síria, vista como o ponto de viragem no conflito que se arrasta há quatro anos e que já fez milhares de mortos e muitos mais deslocados, parece ter terminado. No entanto, o rasto que deixa vai para além das muitas vítimas, militares e civis. As constantes quebras do cessar fogo e as interrupções da evacuação dos sobreviventes são apenas alguns sinais que nem a batalha e muito menos a guerra, estão longe de terminar. Continuam os conflitos e tensões acerca da intervenção internacional no conflito. Estados Unidos e Rússia, tal como em muitas outras ocasiões, continuam com uma linha de diálogo aberta, mas muito ténue. Continua sobretudo em aberto o que se seguirá a Aleppo, uma vez que as atenções do exército sírio – e dos seus aliados russos – parece agora virar-se para o leste do país, onde até agora os EUA têm tido uma maior intervenção no combate ao ISIS.
Aliás, as relações entre Washington e Moscovo têm vindo a conhecer novos desenvolvimentos, com a notícia, veiculada no início da semana, de que a Rússia terá intervindo directamente na campanha eleitoral a favor de Trump. Se, por um lado, isto leva a que as relações com a administração Obama estejam a conhecer um período de maior tensão, é impossível não antecipar uma mudança de cenário com a Administração Trump. Na verdade, até agora, as escolhas que têm sido conhecidas para o gabinete do Presidente-eleito reflectem uma aparente mudança de rumo e de prioridades nas relações externas norte-americanas. A nomeação de Rex Tillerson como Secretário de Estado – o equivalente ao ministro dos negócios estrangeiros dos EUA – coloca um novo ênfase nas relações entre Washington e Moscovo, sobretudo pelas estreitas relações que este tem com a elite autocrática russa. Por outro lado, a nomeação de David Friedman como Embaixador dos EUA em Israel também reforça um alinhamento mais hard-liner, sobretudo porque Friedman já questionou publicamente se a solução de dois estados seria a mais indicada para o conflito israelo-palestiniano, podendo assim colocar em causa o caminho tradicionalmente seguido pela política norte-americana.
Do lado de cá do Atlântico, também as relações com a Rússia estão a ser reavaliadas, não havendo ainda grandes certezas sobre como deverá a União Europeia prosseguir a sua política para com Moscovo – sobretudo pelos sinais enviados a partir de Washington.
No entanto, a semana começou com uma nova vaga de atentados em Istambul e no Egipto. O modo como Erdoğan reagiu à violência terrorista, entretanto já reivindicado por um grupo curdo, não deixa de ser um reflexo do caminho cada vez mais inflexível que o regime turco está a seguir – e que deixará as suas marcas em toda a região. Por seu lado, o atentado à igreja coopta no Cairo foi da autoria do ISIS, que diz que irá continuar a ter o Egipto como um alvo.
Por fim, uma nota de algum – tímido, naturalmente – optimismo: António Guterres tomou posse como Secretário Geral da ONU também nesta semana. Apesar de todas as fragilidades que a Organização das Nações Unidas, bem como todo o sistema sobre o qual assenta, demonstra, a verdade é que a postura de Guterres, bem como o papel que desempenhou como Alto Comissário para os Refugiados, trazem uma esperança de que o novo Secretário Geral consiga ultrapassar as grandes dificuldades que enfrentará. Segundo a correspondente do New York Times nas Nações Unidas, o principal desafio começa logo por ter de lidar com o crescente populismo que surge em vários pontos do globo, e que traz consigo uma grande desconfiança acerca do papel das instituições multilaterais, a começar pela própria ONU – sendo que o mais saliente exemplo desta tendência é o próprio Trump. O discurso de Guterres foi abrangente, focando desde os problemas de reforma da instituição, até à questão do aquecimento global, passando pela vigilância do comportamento das tropas de manutenção de paz.
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